terça-feira, 28 de julho de 2009

Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada


Quando eu era pequena eu tinha o cabelo brilhante, macio e bem lisinho. Mas eu tinha uma mãe que não cuidava do meu cabelo e uma escova de cabelo muito ruim. Eu não sabia me pentear sozinha, então começava em cima da cabeça e ia descendo a escova até onde o braço alcançava. Eu não alcançava a ponta do cabelo (ou tinha preguiça de ir até o fim, não sei) e na ponta formava um bolo de cabelo embaraçado. Então eu adorava o dia de ir no salão cortar as pontinhas, porque depois eu conseguia passar os dedos pela ponta do cabelo. Olha só! Eu gostava de cortar o cabelo porque a mulher o desembaraçava!
Então eu fui crescendo, a puberdade foi chegando e aos dez anos, meu cabelo era horrível! Eu usava o cabelo sempre preso com elástico. Da raíz até o eslástico meu cabelo ainda tinha algum brilho, do elástico até as pontas parecia uma vassoura. Meu cabelo era seco, quebradiço, queimado de sol, desnutrido. Uma tia da minha mãe disse uma vez: "Olha, ela tá ficando com o cabelo crespinho, que lindo!". Eu fiquei com muita raiva! Eu queria ter o cabelo liso como eu tinha aos seis anos, e eu tinha consciência que de lindo, meu cabelo não tinha nada.
Aos 12 anos, resolvi que queria ter o cabelo igual ao da Leia do vôlei. Hoje ela tem cabelo comprido, mas na época era curto, com franjinha, lindo. Minha irmã me levou num salão de garagem e eu não consegui explicar direito o que eu queria, mesmo assim ficou muito bom, combinou comigo.
Um belo dia eu cruzei com uma moça mais velha que eu na rua e achei o cabelo dela maravilhoso! Ela não tinha mais que dois dedos de cabelo, arrepiadinho, com gel. Cheguei em casa e falei pra minha irmã que queria fazer igual. Nessa época minha irmã fazia aquele corte abominável de raspar o cabelo da altura da orelha até a nuca e tinha a máquina em casa. Ela raspou meu cabelo com o pente 2. Deve ter sido vingança por alguma coisa que eu fiz... Minha mãe quase caiu pra trás. Eu acho que não chorei, mas dei graças aos céus por estar em férias. Meu cabelo teria umas duas semanas pra dar uma crescidinha. Fiquei com muita vergonha de chegar sozinha na escola, e no dia em que as aulas voltaram minha mãe me levou até a casa de uma amiga minha pra irmos juntas pra escola. Até essa amiga levou um susto quando me viu, mas depois de duas semanas eu já estava mais acostumada com meu cabelo. Comecei a passar gel e deixar arrepiadinho como o da menina que eu vi. Claro que esse corte não ficou bom em mim, mas no dia em que uma das meninas mais populares da escola cruzou comigo no banheiro e disse que tinha ficado legal, fiquei mais confiante. Alguns devem ter pensado que eu havia passado por quimioterapia; só hoje eu vejo isso.
Então meu cabelo cresceu, fiquei com franjinha, mas resolvi que queria ter cabelo comprido de novo. Devagar meu cabelo foi crescendo, agora tinha uma textura muito mais macia, era mais brilhante, começaram a formar uns cachos bonitos na ponta. Quando o cabelo ultrapassou o ombro, começou a me incomodar. Nessa época eu conseguia usar o cabelo solto, mas com a variedade de prendedores de cabelo que surgiu, logo logo eles passaram a viver presos de novo. Com o passar do tempo as pontas enrolaram mais, ele ficou mais ressecado e mais armado. Meu cabelo nunca ficava como eu queria então não usava solto nunca.
Comecei a ver mais mulheres de cabelo curto por aí, e pensei se teria coragem de cortar curto de novo. Fiquei com medo de ficar parecida com um cotonete, mas eu comecei a gostar da ideia. Quando falei pro namorado, ele fez cara feia e disse não. "Por quê?". "Porque não". Diante dessa falta de argumentos bati o pé e falei que ia cortar, porque eu queria. Marquei hora no salão e fui cortar sem ele saber. Todo o caminho de volta pra casa eu sorria. Em casa, me olhava no espelho e sorria. Eu estava liberta! Quando ele me viu, disse que eu tinha ficado linda. Todo mundo aprovou o cabelo novo.
Depois de 9 anos deixando o cabelo crescer e me incomodando com ele solto, não me acostumei com a franjinha no rosto, então investi em tiaras. De tecido, de acrílico, de metal, largas, finas. Hoje existem uns modelos lindos!
E como já era hábito desde quando eu tinha cabelo comprido, cortei sozinha em casa algumas vezes. Nem sempre ficou bom, mas com o cabelo bagunçadinho fica difícil ver as falhas. Algumas vezes cortei curto demais e fiquei muito bochechuda. Mas cabelo cresce.
E hoje algumas pessoas me perguntam se não vou mais deixar meu cabelo crescer. Não, não vou. Não tenho mais o sonho de fazer uma trança bem comprida, nem de fazer escova, nem de fazer baby liss. Hoje eu não ligo de tomar chuva, de pegar vento, de receber cafuné. Hoje me sinto mais de bem com meu cabelo. Hoje temos uma relação de amor!

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